Por Ana Sampaio
Mesmo internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após cirurgia abdominal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve dar o aval ao novo texto do projeto de lei que anistia os presos pelos atos de 8 de janeiro. A informação foi confirmada pelo líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), nesta quarta-feira (16).
De acordo com o parlamentar, Bolsonaro acompanha ativamente as articulações políticas em torno da proposta. “Ele já deixou tudo pavimentado. A palavra final é dele do texto, mas quando estiver pronto, bato com ele. Se não puder visitar no hospital, posso mandar por WhatsApp ou pela Michelle [Bolsonaro]”, afirmou Sóstenes.
Internação e estado de saúde
Bolsonaro está internado no hospital DF Star, em Brasília, desde o domingo (13), quando passou por uma cirurgia de 12 horas para tratar uma obstrução intestinal — a mais longa desde que sofreu a facada em 2018. O boletim médico informa que o ex-presidente apresenta boa evolução clínica, mas segue sem previsão de alta da UTI e com visitas restritas.
Ainda assim, Bolsonaro tem se comunicado com aliados e, segundo Sóstenes, já envia mensagens diretamente da UTI.
Novo texto da anistia
A nova versão do projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro está sendo reformulada a pedido de Bolsonaro. Ele teria solicitado um texto mais “enxuto”, em tentativa de diminuir resistências dentro da Câmara dos Deputados. A reformulação ocorre após conversa entre o ex-presidente e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), no último dia 9 — um encontro reservado e fora da agenda oficial.
Aliados de Bolsonaro acreditam que a aprovação do projeto, mesmo sem contemplar diretamente o ex-presidente ou outros líderes da trama golpista, pode beneficiá-lo futuramente no Supremo Tribunal Federal (STF).
O texto atual do relatório prevê anistia não apenas aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, mas também a pessoas envolvidas em atos anteriores e até futuros relacionados às invasões e depredações dos prédios dos Três Poderes — o que tem gerado preocupação entre membros do Judiciário e do governo federal.
Trâmite no Congresso
O PL protocolou um requerimento de urgência para a votação do projeto na segunda-feira (14), com 262 assinaturas. Isso permite que a análise possa ser feita diretamente no plenário, sem passar pelas comissões. No entanto, a decisão final cabe ao presidente da Câmara.
Em sua primeira declaração sobre o tema, feita na terça-feira (15) pelas redes sociais, Hugo Motta afirmou que levará o assunto ao Colégio de Líderes, indicando que não decidirá sozinho sobre a tramitação do projeto.
“Democracia é discutir com o Colégio de Líderes as pautas que devem avançar. Em uma democracia, ninguém tem o direito de decidir nada sozinho”, escreveu Motta no X (antigo Twitter).
Resistência e bastidores
Enquanto a base bolsonarista pressiona pela votação do projeto, o STF e o governo Lula (PT) se colocam contra a proposta. Aliados de Hugo Motta esperam que o Palácio do Planalto atue para convencer deputados governistas a retirar apoio ao projeto, tentando frear o avanço da pauta na Casa.
A discussão sobre a anistia ainda promete ser um dos temas mais sensíveis do Congresso nos próximos dias, com repercussões políticas e jurídicas em nível nacional.
Fonte: Bahia Notícias