Por Ana Sampaio
Na madrugada do 2 de julho de 1823, a cidade de Salvador amanheceu livre. O exército português deixava definitivamente a Bahia, selando a vitória dos brasileiros após mais de 17 meses de batalhas. Foi assim que a Bahia garantiu, com sangue e resistência, o que o Grito do Ipiranga em São Paulo apenas simbolizou: a verdadeira Independência do Brasil.
Na Bahia, o 2 de Julho é mais do que uma data histórica — é motivo de festa, orgulho e tradição popular. O povo baiano celebra não só o fim da dominação portuguesa, mas também os heróis esquecidos dos livros didáticos: Maria Quitéria, Joana Angélica, o Corneteiro Lopes, João das Botas, e os Caboclos, figuras centrais do desfile.
Tudo começa com o fogo simbólico
A programação da festa começa no Recôncavo Baiano, na cidade de Cachoeira, onde, no dia 30 de junho, é aceso o fogo simbólico da independência. A chama segue viagem até Salvador, passando de mão em mão por atletas, militares, artistas e representantes do povo, até chegar ao bairro de Pirajá, onde é acesa uma pira no dia 1º de julho.
Nesse mesmo dia, em Salvador, acontece o tradicional Te Deum, uma cerimônia religiosa celebrada na Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus, como agradecimento pela liberdade conquistada.
O cortejo: história viva pelas ruas
No dia 2 de julho, milhares de pessoas vão às ruas para acompanhar o cortejo cívico. A caminhada começa no Largo da Lapinha, com hasteamento de bandeiras, queima de fogos e execução do Hino Nacional. De lá, segue por bairros como Soledade, Santo Antônio Além do Carmo e o Pelourinho, sempre ao som de fanfarras, orquestras e homenagens populares.
O destaque vai para os carros emblemáticos do Caboclo e da Cabocla, que representam o povo guerreiro que lutou na guerra: brancos pobres, negros libertos, indígenas tupinambás e pessoas escravizadas que foram enviadas à luta. Os símbolos recebem flores, frutas e bilhetes com pedidos — tradição que deu origem à expressão popular “vá chorar aos pés do caboclo”.
O percurso segue até o Campo Grande, onde acontece uma cerimônia cívica com hasteamento de bandeiras, execução do Hino ao 2 de Julho e acendimento da pira com o fogo simbólico. Ao final do dia, há um Encontro de Filarmônicas, reunindo orquestras do Recôncavo como as de Cachoeira, Santo Amaro, Candeias e Simões Filho.
O retorno da Cabocla encerra a festa
No dia 5 de julho, os carros do Caboclo e da Cabocla fazem o caminho de volta à Lapinha, encerrando oficialmente a celebração. O retorno é acompanhado por grupos culturais, fanfarras e orquestras, mantendo viva a memória do povo que lutou por liberdade.
Uma história do povo para o povo
A luta pela independência na Bahia foi uma guerra de verdade, com batalhas, resistência popular e muitos heróis anônimos. A festa do 2 de Julho é o reflexo disso: uma celebração feita pelo povo, para o povo. Ao conhecer essa história, entende-se melhor o que foi a verdadeira separação entre Brasil e Portugal — uma conquista que veio das ruas e não apenas dos salões do poder.
Fonte: Salvador Bahia portal