A fonoaudióloga Tamires Reis usou as redes sociais para denunciar o ex-marido, Paulo Roberto Santos. Ela acusa o homem, que é dono de uma academia de tênis, de violência física e sexual contra ela e também contra a filha do casal, uma criança de 3 anos e 9 meses, em Salvador.
A mulher tornou o caso público, no domingo (21), após o Ministério Público da Bahia (MP-BA) pedir o arquivamento do caso por suposta falta de provas. Antes disso, o homem foi indiciado por estupro de vulnerável pela Polícia Civil.
Com a repercussão do relato nas redes sociais, o MP-BA voltou atrás e determinou o retorno dos autos à polícia para que as investigações sejam continuadas.
Em nota enviada à imprensa, o órgão disse que tomou a decisão “após o recebimento de informações adicionais, que não haviam sido anexadas ao inquérito policial”.
“O MP havia solicitado o arquivamento do caso com base no inquérito policial que não identificou indícios suficientes de autoria e materialidade para a configuração do crime”, justifica o texto.
Tamires afirma que há outros diversos documentos que não foram levados em conta no processo, como relatórios de psicólogos e outros profissionais de saúde, além de depoimentos dela e de sua mãe.
Violência contra a criança
A fonoaudióloga afirma que começou a desconfiar dos abusos quando se separou de Paulo Roberto Santos. Na época, a criança tinha 1 ano e 6 meses.
Segundo a mãe, a filha passava cerca de três dias por semana na casa do pai, sempre demonstrando forte sofrimento com os encontros. Conforme apontado por Tamires:
- antes de ir, a pequena chorava, sentia medo, se agarrava aos familiares e cuidadores em súplica para que não fosse entregue ao pai;
- depois, ficava irritadiça, batia a cabeça no chão, mordia os outros e a si mesma.
“A escola solicitou acompanhamento psicológico e colocou auxiliar extra para conter as agressões [aos coleguinhas] e autoagressões”, relatou.
Tamires detalha que a filha passou a voltar da casa do pai com marcas roxas pelo corpo até que, em julho de 2022, notou uma vermelhidão nas partes íntimas. De acordo com ela, nessas ocasiões, a filha bloqueava qualquer contato, prejudicando até a troca de fralda e higienização.
Depois disso, ela conta que questionou o ex-marido, que teria negado qualquer agressão. Mas com a desconfiança, a mulher instituiu que a menina só fosse até a casa de Santos acompanhada por uma babá.
Ainda assim, as violências não teriam cessado até que, em setembro passado, a criança teria feito “gestos obscenos, de cunho sexual, incompatíveis com a idade dela”.
A partir disso, Tamires prestou queixa na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), registrou o caso no Instituto Médico Legal, Conselho Tutelar, entre outros órgãos. A Justiça, então, concedeu medida protetiva a ela, mas não à criança. Pelo contrário, a determinação judicial vigente prevê guarda compartilhada.
Histórico de agressões
Ao expor agressões contra a filha, a fonoaudióloga lembra que ela própria viveu uma relação abusiva com Santos. Os dois passaram quase 10 anos juntos.
Entre os episódios, a mulher destaca:
- um tapa na cara no momento que amamentava a então bebê;
- um estupro sete dias após dar à luz a menina.
O vídeo divulgado por ela nas redes sociais encerra com gravações feitas na casa do casal, em que o homem xinga ela de “put* do caralh*” e diz coisas como: “Eu sou 300 vezes mais inteligente e tenho mais poder que você” e “Eu mando e você obedece, é simples assim”.
“Eu e minha filha estamos correndo perigo”, resumiu a mulher no pedido de ajuda.
Pai nega as acusações
O advogado de Santos disse ainda não ter sido notificado de que o MP-BA pediu a retomada das investigações. De acordo com o defensor, a “Promoção de Arquivamento está muito bem fundamentada e se justifica na ausência de qualquer indício de materialidade e autoria dos fatos denunciados”.
Como argumentos em defesa de seu cliente, Argones destaca o depoimento de uma mulher que trabalhou na residência em que o casal morava com a criança. No vídeo, ela diz que acompanhou a época da separação e “viu tudo de perto quando aconteceu”.
Uma babá também depôs em defesa do homem, afirmando que ele tratava a menina com carinho.
Já a escola produziu um relatório utilizado pela defesa de Paulo. No documento, a instituição de ensino confirma os relatos de agressividade por parte da criança, mas diz que ela demonstra “alegria” e permanece “tranquila” na companhia do pai.
O homem registrou um boletim de ocorrência contra a ex-mulher, alegando que desde a última segunda (15) não sabe o paradeiro da filha.
Investigação em curso
Diante do novo posicionamento do MP-BA, a polícia deve retomar o caso.O advogado Victor Câmara, que representa Tamires, disse que já havia feito um recurso para a instância de revisão ministerial. Agora, com a expectativa de que a investigação seja continuada, o defensor aguarda o desenrolar do processo.