Inteligência Artificial na educação: transformação digital impulsiona aprendizado, mas desafia papel do professor

Por Ana Sampaio

A inteligência artificial (IA) está moldando uma nova era no setor educacional. De softwares de planejamento de aula à personalização do ensino, a tecnologia vem revolucionando a forma como professores ensinam e estudantes aprendem. No entanto, junto com as promessas de eficiência e acessibilidade, surgem debates importantes sobre o papel humano na educação e os impactos no desenvolvimento crítico dos alunos.

Segundo um estudo da consultoria McKinsey, até 40% do tempo gasto por professores em tarefas repetitivas pode ser otimizado com o uso de IA. Isso inclui desde a correção de provas até a elaboração de planos de aula. A automação, aponta o relatório, pode reduzir em até metade o tempo destinado à preparação de atividades pedagógicas, permitindo que os educadores foquem mais no acompanhamento individual dos estudantes.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) também reconhece o potencial transformador da IA. A entidade destaca que essas tecnologias podem facilitar o acesso à educação, especialmente para alunos com necessidades especiais, e oferecer experiências de aprendizado mais personalizadas.

Apesar das vantagens, especialistas alertam para os limites da tecnologia. Para o professor Fábio Ferreira, que leciona a disciplina Iniciativa Maker no Colégio Cândido Portinari, a transformação promovida pela IA vai além do digital. “A aprendizagem é um processo afetivo e relacional, que envolve troca de afetos e desenvolvimento socioemocional”, ressalta.

Ferreira enfatiza que a presença do professor continua sendo insubstituível. Ele acredita que o contato humano é essencial para formar indivíduos críticos, criativos e emocionalmente preparados. “Quando o estudante recebe respostas prontas, tende a se acomodar e perder criatividade. Essa dependência pode comprometer a capacidade de questionar e explorar, que são fundamentais para o desenvolvimento integral”, afirma.

O alerta do professor dialoga com previsões otimistas sobre o futuro do mercado de trabalho. Estudos internacionais estimam que a IA deve gerar cerca de 133 milhões de novos empregos até 2030, especialmente em áreas que exigem criatividade, pensamento crítico e habilidades socioemocionais — justamente competências que a educação deve estimular.

Diante desse cenário, especialistas concordam que o papel da escola se torna ainda mais estratégico: formar cidadãos conscientes, éticos e preparados para os desafios de um mundo em constante transformação tecnológica.

“Enquanto houver educação, haverá a necessidade da presença humana no processo, pois nenhuma inteligência artificial pode substituir a complexidade das relações, o exemplo e a mediação do conhecimento que o professor oferece”, conclui Ferreira.

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